O que aprendi com a cultura escandinava
Eu não imaginava que vocês ficariam tão curiosos sobre a cultura desse povo do Hemisfério Norte, então aqui vão algumas coisas que aprendi e acho interessantes de compartilhar
Muito se fala em decoração escandinava, hygge, s-beauty (scandinavian beauty), etc., mas vejo que a abordagem ainda é um tanto rasa e comercial. Bem, para início de conversa, minha conexão com a cultura escandinava começa pela família do meu pai (ramo da minha avó paterna, Nina Rambusch), da Dinamarca, e passa por inúmeros pontos de aderência com a cultura, estética e valores.
Pois bem, já estive em Copenhagen duas vezes e nessa última viagem, em maio, eu e o André (meu marido) fizemos uma roadtrip pelo país e pudemos sentir bem de perto como esses valores se fazem presentes no dia-a-dia.
Para começar, a confiança é um pilar primordial nessa sociedade. Vou dar um exemplo. Assim que chegamos no aeroporto, já fomos em direção ao trem que saía dali e nos levaria à região do hotel. O cartão não passou na máquina (tinha que desbloquear por SMS e eu não vi) e então fomos perguntar para um funcionário dali como que deveríamos proceder. Nem terminamos de explicar a situação, ele já sacou papel e caneta do bolso e anotou o nome e rádio dele (caso algum fiscal nos perguntasse) e disse: podem ir. É isso. Confiança de que não estávamos mentindo (afinal, turistas perdidos) e confiança na palavra dele. E assim foi. Eis o bilhete:
É por isso que tanta gente deixa o carrinho de bebê (com o bebê dentro) do lado de fora nos restaurantes. Confiança na sociedade, no fato de que ninguém vai roubar a sua criança. Sociedade essa que pensa realmente como coletivo. Por isso que conquistaram tantos direitos sociais, igualitários e de bem-estar. Aí eu volto para o tema que mencionei na semana passada, Janteloven, ou Lei de Jante. A grosso modo, essas leis não ditas meio que igualam todos. Ninguém é mais especial que ninguém. Não venha se gabar ou ostentar. Legal mesmo é pensar coletivamente. Por essas e outras, a cultura de celebridade não cola muito por lá.
Por isso também que o design ficou mundialmente famoso. Tenho um livro bem interessante que se chama Scandinavian Design (Taschen) e que logo na introdução menciona o “socialismo” por trás do design escandinavo. Todos merecem ter coisas boas, peças funcionais, de qualidade e que durem uma vida toda. A base da Ikea, por exemplo, é essa. Claro que existem muitas marcas de design que são realmente caras, mas geralmente o são porque não exploram mão-de-obra, matéria-prima, etc. Eu acredito muito nisso e no fato de ter poucas coisas e boas, não ficar trocando a todo tempo. Procuro seguir esses preceitos na minha marca também. Não explorar ninguém, manter a qualidade, cobrar um preço justo.
Enfim, tem muita coisa para falar sobre esse tópico e não quero me prolongar. Claro que a sociedade escandinava também tem muitos problemas e desafios a enfrentar, mas aqui quero compartilhar as coisas interessantes que vivenciei.
Voltando à experiência da roadtrip, o que posso dizer é que as pessoas são muito solícitas e amigáveis. Uma dica: se você for para lá, prepare-se para o horário deles, já que muitas lojas e negócios fecham às 17h30 para que as pessoas tenham tempo para o lazer, família e amigos. E não deixe de provar as comidas e bebidas locais. Nos últimos anos, eles se especializaram na área gastronômica e estão dando um show com produtos frescos e regionais (desde peixes defumados até gin da floresta, que é super perfumado).
Com relação à perfumaria, notei que valorizam muito as marcas locais e tudo o que é eco-friendly. Conheci muitas marcas novas e algumas até bem ousadas. Uma que me chamou a atenção foi a Skandinavisk, especialmente a fragrância Hav (que significa mar). O cheiro de alga é ao mesmo tempo interessante e repugnante, mas você não consegue parar de cheirar, sabe? Inovaram. E certamente vende, pois é o cheiro que remete à beira da praia mesmo, sem romantizar. Cru e selvagem. Curti.
E você? Tem alguma experiência com a cultura escandinava para compartilhar?
Um beijo e até semana que vem,
Ma.
Eu na ilha mágica de Bornholm
Nossa, fiquei super curiosa com essa fragrância Hav. E amei especialmente o ponto sobre a confiança e a coletividade, acredito muito que essa junção alcança grandes feitos. Que leitura gostosa pra um início de dia, Ma 🤎✨
Adorei! Nunca estive lá, mas quero! Quando vc contou sobre esse perfume de cheiro de mar, lembrei do Odeur 53 - Comme Des Garçons. Eu não sei se existe ainda, mas a memória que tenho é muito maravilhosa. Já sentiu? Bjo